Constelando a endometriose

Ontem foi uma Constelação tão reveladora como surpreendente.

 

 

 

Uma mulher veio para olhar para um sintoma: endometriose. Eu já sabia na teoria que uma das dinâmicas profundas desse sintoma é a violência.

 

Esta era nossa segunda tentativa de constelar, a sessão já havia sido cancelada anteriormente por causa de fortes chuvas e ventos.  Nesta ocasião o dia se apresentava calmo e o sol trazia esperanças de uma tarde pacífica. Porém eu não sabia nada do que estava por acontecer na sessão de Constelação com Cavalos, que é sempre um Grande Mistério. Isso me completa, me motiva  e encanta nesta profissão. O protocolo de trabalho é se conectar, ativar seu estado de presença, seguir sua intuição e realizar a leitura do campo que se configura diante de nós nesse tempo/ espaço.

 

 

 

Dentro do processo de conexão do aty / cerimônia Guarani Ñandewa iniciamos o trabalho. De alguma forma intuitiva recebo as informações de que a ancestralidade africana já está presente no campo e pede para ser incluída, olhada e respeitada. Olhando para os cavalos no campo sinto e vejo que esse movimento vem da mãe da minha cliente e por isso pergunto para ela sobre a mãe da mãe dela: o que você me pode contar da sua avó materna.

 

Ela me diz que sua avó foi muito maltradada, que inclusive o esposo dela cuspia em seu rosto. Vemos no campo uma guerra entre cavalos, perseguição, violência. Ficamos impactados quando dois cavalos envolvidos numa energia de briga ficam ajoelhados um diante do outro por muito pouco tempo.  A disputa parece ser tão séria que um quer derrubar o outro. Quando aponto para este fato ela confirma essa leitura e ainda revela questões como falta de empatia e desinteresse no primeiro casamento e no segundo percebe que está envolvida com o interesse de ser cuidada na velhice, como se fosse um investimento porque precisaria de alguém no futuro.

 

 

 

Entrando no campo em contato com a manada vemos que esse sentimento está em ressonância com a mãe do pai, que não gostava de negros, excluía sua família de origem. O fato de ter sido abandonada e abusada trouxe novas compressões sobre a atuação do amor cego onde a alma dizia para essa avó: eu também. Movimentos de libertação aconteceram para dissolver este padrão e olhar para o novo: a África também importa, ela existe.

 

 

 

Seguindo o movimento no campo olhamos para um cavalo distante, um tanto oculto na floresta.  Ele está representando sua avó materna que foi capturada. Nesse momento sinto que  a cliente precisa dizer algumas frases ativando processos de reconhecimento e gratidão. Após essas frases serem ditas o cavalo inicia um processo de vir até ela. Quando se detém na  sua frente ela se curva e reverencia profundamente o povo da floresta. Quando esse movimento chega até o limite do amor pelas vítimas a energia do perpetrador surge no campo. A cliente percebe esse movimento e rapidamente guio ela até um local interno onde pode acolher ambos sem diferenças, sem preferências. Assim finaliza essa sessão.

 

 

 

Saindo do Rancho uma nuvem preta gigante cobre todo o céu. O ar fica congelado e em instantes uma forte chuva de granizo traz a consciência do trauma tocado.

 

 

 

As dores que um indivíduo carrega  no  corpo podem ser liberadas a partir do processo da Constelação Familiar com Cavalos. Elas estão no individuo, na alma familiar, na alma de um povo ou de uma raça.

 

Essa liberação também  pode ser manifestada no gelo que cai do céu e se derrete na terra . Ha’ewete .

 

 

 

Quatro Barras, 03 de Novembro de 2020